Linguado – Solea senegalensis
Linguado do Senegal (Solea senegalensis)
EN- Senegalese sole ; FR – sole du Senegal; SP – lenguado do Senegal;
O linguado é uma espécie muito comum na costa portuguesa, sendo muito apreciado pelos consumidores por ser um peixe magro e possuir uma “carne” muito branca.
O linguado do Senegal (Solea senegalensis) tem um corpo oval e uma coloração castanho claro, sendo muito parecido com o linguado legítimo (Soleasolea) em termos de aparência, podendo distinguir-se estas 2 espécies pela barbatana peitoral do lado ocular. De facto, no linguado do Senegal a membrana intra-raios da barbatana peitoral é preta, dando um aspecto raiado, enquanto o linguado comum apresenta uma mancha compacta preta na extremidade da barbatana peitoral.
Esta espécie distribui-se ao longo da costa Atlântica, desde o canal da Mancha até ao Senegal, sendo menos frequente no Mar Mediterrâneo. É uma espécie preferencialmente do litoral, bentónica, habitando fundos arenosos e/ou de vasa. Alimentam-se de invertebrados (poliquetas e moluscos bivalves) e pequenos crustáceos. A época de reprodução decorre entre Março e Junho, embora na região Algarvia e na Baía de Cádiz se encontrem registos de outra época de desova entre Setembro e Outubro.
Durante a fase larvar o linguado exibe uma simetria bilateral. No entanto, ao longo do seu desenvolvimento, o linguado vai perdendo a simetria bilateral, sendo evidente a migração do olho do lado esquerdo para junto do olho do lado direito (face ocular= com olhos), assim como o rearranjar de outras estruturas do corpo que acompanham esta transformação. Este processo é designado por metamorfose e nas larvas de linguado cultivadas pode demorar cerca de 10 dias, tendo início entre os 10 e os 15 dias após a eclosão.
INVESTIGAÇÃO
A investigação com o linguado teve início no INIP - Instituto Nacional de Investigação das Pescas - em 1985, instituto de investigação precursor do IPIMAR – Instituto de Investigação das Pescas e do Mar-, o qual que deu origem ao IPMA – Instituto Português do Mar e da Atmosfera - em 2012.
Nessa altura, a investigação incidiu sobre aspectos relacionados com o acondicionamento dos reprodutores, na proporção machos fêmeas para obtenção de posturas, na manipulação de parâmetros abióticos para induzir as posturas, em protocolos de cultivo larvar, havendo particular interesse em definir as condições zootécnicos, identificar preferências alimentares e requisitos nutricionais, nestas duas etapas do ciclo.
Ao contrário da dourada e do robalo, o linguado apresentava elevadas mortalidades na fase de adaptação à alimentação inerte, facto que condicionou a indústria nessa época a optar pelas outras espécies mais fáceis de cultivar.
Estava lançado o desafio à comunidade científica e nos anos 90 assistiu-se a uma intensa investigação, no IPMA e na Universidade do Algarve, incidindo sobre a fisiologia digestiva e os requisitos nutricionais da fase larvar e juvenil, para tentar perceber por que razão o linguado não aceitava bem o alimento inerte.
Descobriu-se que no linguado o estômago aparecia mais tarde e além disso não atingia os valores de acidez observados nas outras espécies produzidas (dourada e robalo), condicionando o tipo de ingredientes que conseguiam digerir.
Paralelamente observaram-se avanços na área da tecnologia alimentar, assim como na optimização de sistemas de produção, em aspectos da reprodução, na melhoria de posturas através de manipulação da nutrição, consolidando o potencial do linguado para a produção em aquacultura. A investigação realizada foi suportada por diversos projectos de investigação científica, tanto em programas nacionais e como internacionais.
Nos últimos anos a investigação no IPMA, desenvolvida maioritariamente na Estação Piloto de Piscicultura de Olhão (EPPO) tem incidido na optimização da alimentação e nutrição de reprodutores e de larvas de linguado. No caso das larvas desta espécie, tem-se estudado o efeito da incorporação de copépodes na dieta, por ser um alimento com uma excelente composição nutricional.
Estes ensaios têm sido realizados em colaboração com uma empresa Norueguesa, a qual captura copépodes no meio natural e os preserva para posterior comercialização às maternidades de peixes marinhos.
O último produto desta empresa testado na EPPO foram copépodes criopreservados, os quais após um protocolo de descongelação, foram reanimados e fornecidos vivos às larvas de linguado, tendo resultado em boas taxas de crescimento e sobrevivência.
O aumento do consumo de peixe, associado aos benefícios para a saúde, tem levado ao aumento da procura que as pescas não têm conseguido satisfazer, dada a estagnação das descargas de pescado.
O aumento do valor comercial do linguado, aliado ao conhecimento obtido com a investigação nesta espécie, tornou rentável a sua produção em aquacultura.
Na região de Aveiro, existe uma empresa dedicada ao cultivo de linguado em sistema de recirculação, responsável pela produção de cerca de 126 toneladas em 2015, de acordo com a estatística da Pesca de 2016.