Área educativa - Ciclone Tropical
A uma latitude de 10º, ou superior, é possível a existência de movimentos de rotação que, no Hemisfério Norte, têm sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. Se estes movimentos forem organizados e persistentes, tendem a originar a formação de regiões de baixas pressões (depressões), caracterizadas pela presença de nuvens de grande desenvolvimento vertical (como os cumulonimbos). Em alguns casos evoluem para ciclones tropicais - sistemas de baixas pressões, que se formam na região tropical, em geral entre os 10º e 30º de latitude – os quais podem originar trovoadas e precipitação forte. Os ciclones tropicais são designados, consoante a área geográfica de ocorrência, por:
- furacões (hurricanes) no Oceano Atlântico Norte - Golfo do México, Caraíbas e na região Leste dos Estados Unidos; - tufão no Oceano Pacífico Norte, na região Oeste dos Estados Unidos, Japão e China. Nas Filipinas são apelidados por baguios; - ciclone tropical severo na região sudoeste do Oceano Pacífico, Austrália, Nova Zelândia, Indonésia, etc.; - tempestade ciclónica severa na região norte do Oceano Índico, Índia, Bangladesh, Paquistão, etc.; - ciclone tropical na região sudoeste do Oceano Índico, Madagáscar, Moçambique, Quénia, etc.
As condições atmosféricas e oceânicas favoráveis à formação dos ciclones tropicais e seu desenvolvimento são: - a existência de uma perturbação tropical inserida numa onda de leste (ou seja, uma formação nebulosa já com alguma convecção organizada); - a permanência da perturbação durante um intervalo de tempo suficientemente extenso sobre superfícies oceânicas quentes (onde a temperatura da superfície da água do mar for igual ou superior a 26,5ºC numa camada de, pelo menos, 50 metros de profundidade); - um elevado conteúdo de humidade em níveis baixos da troposfera; - a existência de vento com intensidade fraca e baixo ”wind-shear” (variação do vento em intensidade e/ou direção com a altitude) nos níveis médios e altos da troposfera – Figura A.
Figura A – Esquema das condições atmosféricas e oceânicas para a formação inicial de um ciclone tropical. (Retirado de “Hurricane Basics”- NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration, www.nhc.noaa.gov)
As águas quentes da superfície do oceano constituem a principal fonte de energia dos ciclones tropicais. O vento associado ao sistema de baixas pressões à superfície favorece a sua evaporação, libertando-se energia, sob a forma de calor latente. A subida de ar quente e húmido, e consequente condensação, reforça a libertação de calor e contribui para o aumento de energia associado à massa nebulosa. Como consequência, esta vai-se desenvolvendo e organizando em células convectivas de grande dimensão, cujos topos se vão elevando na atmosfera. A existência de ventos fracos nos níveis médios e altos da troposfera (”wind-shear” baixo ou nulo) favorece o desenvolvimento e intensificação da tempestade.
Os ciclones tropicais têm um ciclo de vida, ou seja, nascem, evoluem e morrem, durante um período de tempo de, em geral, duas a três semanas. Na sua evolução passam por vários estágios de desenvolvimento com denominações e características específicas, designadamente:
Os nomes das tempestades tropicais foram estabelecidos por um comité internacional, que concebeu seis listas de nomes sendo cada uma utilizada de novo após seis anos. Nomes masculinos e femininos alternam em cada lista, sendo que os nomes de furacões que tenham provocado significativos danos materiais e perdas de vidas, são retirados da lista, pelo que nunca voltarão a ser utilizados.
Estas classificações podem ser resumidas no quadro seguinte:
Classificação | Resto do mundo | |||
---|---|---|---|---|
Metro por segundo m/s |
Quilómetro por hora Km/h |
Nós kt. |
Milha por hora mph. |
|
Depressão Tropical | < 17 | < 62 | < 33 | < 38 |
Tempestade Tropical | 17 a 32 | 62 a 118 | 33 a 63 | 38 a 73 |
Furacão | ≥ 33 | ≥ 119 | ≥ 64 | ≥ 74 |
A estrutura de um furacão inclui os seguintes elementos:
- Olho do furacão (Eye) que se encontra na zona central, é uma região de vento fraco, cujo diâmetro varia entre 30 a 70 km (20 a 40 milhas náuticas) e onde se encontra o mais baixo valor da pressão à superfície.
- Parede do olho (Eyewall) é a região em torno do olho, constituída por uma parede de nuvens convectivas, formando um anel de cumulonimbos, que dão origem a chuva forte e trovoadas. Nesta zona, que pode ter uma extensão de 16 a 80 km, são observados os ventos mais intensos.
- Bandas de precipitação (Spiral rainbands) são aglomerados de nuvens convectivas que se formam em espiral, posicionando-se em torno da parede do olho, originando forte precipitação e trovoadas e estendendo-se ao longo de centenas de quilómetros a partir do centro.
As estruturas descritas podem ser observadas na figura B.
Um aspecto a ter em consideração, visto constituir uma das maiores causas de danos originados pela passagem de um furacão é a chamada sobre-elevação do nível médio do mar (storm surge), ou seja, a elevação do nível da superfície da água do mar devido aos efeitos da baixa pressãoatmosférica e do vento muito forte. A sobre-elevação do nível médio do mar, numa determinada zona costeira, depende da inclinação da plataforma continental nessa região e da intensidade com que o furacão atinge o local. A área afectada poderá ter uma largura entre 90 a 180 km, podendo o valor da sobre-elevação ultrapassar 5 m de altura.
Quando o centro do furacão intersecta a linha de costa (landfall), as ondas geradas pela forte intensidade do vento, associadas a esta elevação anormal do nível médio do mar, podem provocar inundações muito consideráveis nas zonas costeiras. Para além deste factor destruidor, a forte precipitação pode, também, produzir inundações, frequentemente causadoras de perdas de vidas humanas e avultados danos materiais.
A intensidade dos furacões foi classificada, no início da década de 70, por Herbert Saffir e Robert Simpson, sendo o seu potencial destruidor baseado nos valores da pressão atmosférica, velocidade do vento e sobre-elevação do nível médio do mar. Esta escala, designada como Escala Saffir-Simpson, permite determinar a intensidade de um furacão com valores entre 1 e 5.
Escala Saffir-Simpson | |||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Categoria dos furacões | Velocidade do vento | Mínimo de pressão à superfície | Sobre-elevação do nível médio do mar | ||||
Metro por segundo m/s |
Nós kt |
Quilómetro por hora |
Milha por hora mph |
Milibar mb |
Metro m |
Pés ft |
|
1 | 33 - 42 | 64 - 82 | 119 - 153 | 74 - 95 | ≥ 980 | 1,0 - 1,7 | 3 - 5 |
2 | 43 - 49 | 83 - 95 | 154 - 177 | 96 - 110 | 979 - 965 | 1,8 - 2,6 | 6 - 8 |
3 | 50 - 58 | 96 - 113 | 178 - 209 | 111 - 130 | 964 - 945 | 2,7 - 3,8 | 9 - 12 |
4 | 59 - 69 | 114 - 135 | 210 - 249 | 131 - 155 | 944 - 920 | 3,9 - 5,6 | 13 - 18 |
5 | ≥ 70 | ≥ 136 | ≥ 250 | ≥ 156 | < 920 | ≥ 5,7 | ≥ 19 |
A escala Saffir-Simpson, incluindo uma descrição dos efeitos destruidores, pode ser consultada em: http://www.aoml.noaa.gov/general/lib/laescae.html e http://www.parlandosparlando.com/pdf/Saffir-Simpson_Hurricane_Scale.pdf.
Depois de o furacão entrar em terra, começa a enfraquecer consideravelmente. No entanto, pode produzir elevadas quantidades de precipitação e trovoadas.
O enfraquecimento dos furacões pode dever-se a vários fatores, entre os quais o deslocamento para uma região com a temperatura da superfície da água do mar mais baixa, o deslocamento sobre terra ou a existência de elevadas intensidades de vento nos níveis altos da troposfera.
À medida que a pressão atmosférica no centro aumenta (e a intensidade do vento à superfície diminui), verifica-se um enfraquecimento da perturbação, segundo um processo inverso ao descrito para o desenvolvimento: o furacão poderá tornar-se numa tempestade tropical, posteriormente numa depressão tropical e, finalmente, num ciclone extratropical. Este termo é utilizado quando o ciclone perde características tropicais e se desloca para latitudes mais elevadas.
Para saber mais pode consultar os seguintes sites:
- National Hurricane Center
- Operational Significant Event Imagery
- Atlantic Oceanographic and Meteorological Laboratory
- NASA