Biqueirão – Engraulis encrasicolus
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Equivalente noutro idioma
- European anchovy ( )
- Anchois europeénne ( )
- Boquerón ou Anchoa ( )
Identificação
Corpo esguio, estreito de secção transversal oval; sem carena ventral de escudetes; focinho cónico proeminente, pontiagudo ultrapassando a maxila inferior; boca ínfera; maxila superior longa, prolongando-se bem atrás do olho; região dorsal azulada ou esverdeada, flancos e abdómen prateados.
Biologia
O biqueirão é um pequeno peixe pelágico de vida curta (3 anos de longevidade). O seu crescimento é rápido e a mortalidade natural elevada. Os sexos são individualizados e distinguíveis pela observação dos órgãos reprodutores internos (ovário/testículos).
Na costa ocidental portuguesa e de acordo com o ciclo de condição nutricional e do índice gonadossomático de indivíduos recolhidos no porto de Matosinhos durante 2017, o ciclo reprodutivo do biqueirão parece iniciar-se em março/abril, atingir um pico em junho e acabar em julho/agosto. No Golfo de Cádis a época de reprodução da espécie estende-se desde o fim do Inverno até ao início do Outono ocorrendo um pico entre junho e agosto. O comprimento de primeira maturação ronda os 11 cm.
O biqueirão acumula gordura desde o Outono até ao fim do Inverno, que utiliza para ter energia para produzir os ovócitos e espermatozoides necessários à reprodução durante os meses seguintes. Esta gordura, rica em ácidos gordos polinsaturados (principalmente do tipo ómega 3, em particular EPA e DHA), acumula-se no músculo e em redor das vísceras. No fim da época de desova o biqueirão está magro porque utilizou essa gordura na reprodução.
O biqueirão suporta um grande intervalo de temperaturas do mar. A reprodução envolve a fecundação externa dos ovos e ocorre preferencialmente a temperaturas de 15-25ºC e salinidades entre 9 e 37,5‰. É uma espécie com fecundidade indeterminada e postura seriada: cada fêmea produz várias emissões de ovos ao longo da época de desova, efetuando várias desovas ao longo da vida. Os ovos são ovais, pelágicos (flutuam ao sabor das correntes nas camadas superficiais da coluna de água, até aos 50 m de profundidade) e eclodem em 24-65 horas. As larvas nascem com 3,5-4 mm de comprimento e começam a alimentar-se com 5 mm, quando atingem 3 dias de idade.
A sobrevivência das larvas e consequente evolução para o estado de juvenil e finalmente de adulto depende essencialmente das condições ambientais, em particular da disponibilidade alimentar que irão encontrar nas zonas onde se irão desenvolver. O sucesso reprodutivo depende também do tamanho das fêmeas e das suas reservas energéticas.
O biqueirão é uma espécie que apresenta dois modos de alimentação: filtração passiva e predação ativa, alimentando-se exclusivamente de plâncton (em particular copépodes, eufausiáceos e outros crustáceos). Apesar de ter uma dieta em parte sobreponível com a sardinha, alimenta-se de presas maiores.
O consumo de biqueirão na alimentação humana tem vantagens para a saúde uma vez que fornece um alto teor em ácidos gordos que possuem propriedades anti trombóticas e anti-inflamatórias, ajustando o metabolismo do cálcio, melhorando assim as funções dos sistemas nervoso e imunológico reduzindo o colesterol LDL e aumentando simultaneamente o colesterol HDL.
Distribuição e Habitat
A sua distribuição geográfica compreende a faixa costeira do Atlântico Nordeste, desde o Sudeste de África até ao Mar do Norte, incluindo o Mar Mediterrâneo (Figura 1). É uma espécie pelágica que se distribui na zona da plataforma continental (espécie nerítica). Na costa portuguesa, o biqueirão distribui-se ao longo de toda a plataforma continental até aos 100 m de profundidade. Historicamente, a sua abundância predominante nas costas oeste e sul da Península Ibérica ocorre no Golfo de Cádis (Espanha), existindo outro foco de maior abundância na costa norte de Portugal (Figura 2).
A distribuição dos ovos de biqueirão geralmente coincide com os adultos, sugerindo que há mecanismos hidrodinâmicos que promovem a retenção dos ovos na proximidade das zonas de reprodução. Historicamente a maior concentração de ovos ocorre no Golfo de Cádis, seguido da zona 9a.CN (próximo de Aveiro) e ocasionalmente na parte norte da zona 9a.CS (próximo de Lisboa).
Na Sub-divisão 9a S observa-se uma população persistente ao longo das três décadas de campanhas de rastreio acústico, ao contrário da população da costa ocidental que tem sido particularmente abundante durante a última década.
As suas migrações ao longo das águas Ibero-Atlânticas não são bem conhecidas. Estudos genéticos recentes utilizando DNA mitocondrial demonstraram existir uma diferenciação entre as populações da costa ocidental (9a N, C-N e C-S) e as do Golfo de Cádis (9a S).
Os juvenis e adultos jovens concentram-se em zonas mais costeiras e produtivas inclusivamente dentro dos estuários dos rios e rias.
É uma espécie que forma cardumes (gregária) na coluna de água (pelágica).
Sendo uma espécie de vida curta, a dinâmica das populações de biqueirão é amplamente afetada pelas flutuações anuais dos processos ambientais, sejam naturais ou antropogénicos. A distribuição e as variações da abundância do biqueirão na costa ocidental parecem aumentar quando as condições ambientais são adequadas, ficando restringidas aos estuários e rias nos restantes períodos. No Golfo de Cádis o recrutamento no estuário do rio Guadalquivir parece ser favorecido quando a temperatura e a salinidade da água são relativamente elevadas e a turbidez e a pluviosidade reduzidas. No entanto, o principal fator que regula o sucesso do recrutamento no estuário parece ser a disponibilidade alimentar de presas chave (copépodes para as pós-larvas e misidáceos para os juvenis).
Esta espécie é predada por inúmeras espécies de peixes nas áreas onde se distribui (Tabela 1).
País | Grupo | Família | Espécie |
---|---|---|---|
Portugal | Peixes ósseos (Osteichthyes) | Clupeidae | Alosa fallax |
Coryphaenidae | Coryphaena hippurus | ||
Merlucciidae | Merluccius merluccius | ||
Scombridae | Scomber scombrus | ||
Lotidae | Ciliata mustela | ||
Sparidae | Oblada melanura | ||
Espanha | Peixes ósseos (Osteichthyes) | Carangidae | Seriola dumerili |
Carangidae | Trachurus mediterraneus | ||
Uranoscopidae | Uranoscopus scaber | ||
Xiphiidae | Xiphias gladius | ||
Ophichthidae | Ophichthus rufus | ||
Rússia | Peixes ósseos (Osteichthyes) | Centracanthidae | Huso huso |
França | Peixes ósseos (Osteichthyes) | Dalatiidae | Etmopterus spinax |
Itália | Peixes ósseos (Osteichthyes) | Scombridae | Thunnus thynnus |
Scyliorhinidae | Galeus melastomus | ||
Grécia | Peixes ósseos (Osteichthyes) | Synodontidae | Saurida undosquamis |
Costa do Marfim | Peixes ósseos (Osteichthyes) | Elopidae | Elops lacerta |
Pesca
O biqueirão é principalmente capturado com a arte do cerco (>95%), estando, no entanto, presente em menor quantidade nas capturas de outras artes como o arrasto, redes de emalhar (sardinheiras) e arte-xávega. A pescaria do cerco é realizada por cerca de 120 embarcações, que utilizam geralmente uma embarcação pequena para auxiliar as manobras durante a pesca (chalandra ou chata), e que realizam viagens diárias e pescam na vizinhança do porto de origem.
Na pesca do cerco, ocorre a captura de cardumes só de biqueirão ou captura de biqueirão misturado no mesmo lance de pesca com outros pequenos e médios pelágicos, tais como sardinha, cavala e carapau.
A gestão da pesca do biqueirão é realizada por Portugal e Espanha e tem vindo a ser gerida através de TACs anuais sem ter por base um aconselhamento para o stock por parte do ICES. Após a recente reunião de “Benchmark” (WKPELA 2018) passou-se a fornecer esse aconselhamento (Ver secção Avaliação).
A maior parte da captura é vendida no mercado em fresco, sendo também exportada e canalizada para a indústria de conservas.
Artes de Pesca
- Maioritariamente cerco, pequena quantidade em arrasto, redes de emalhar (sardinheiras) e arte-xávega
Portos de Desembarque
- Matosinhos
- Aveiro
- Figueira da Foz
- Peniche
- Sesimbra
- Sines
- Portimão
- Olhão
Projectos
- PNAB-DCF
- SARDINHA2020: “Abordagem Ecossistémica para a gestão da pesca da sardinha” – Mar2020, IPMA.