Biqueirão – Engraulis encrasicolus
População
De acordo com a revisão sobre a estrutura do stock para as águas Ibero Atlânticas apresentada em 2015 (Ramos, 2015) ao Grupo de trabalho “Stock Identification Methods” (SIMWG) do ICES considerou-se a existência de uma população de biqueirão autossustentável localizada no Golfo de Cádis (ICES Sub-Div. 9a Sul), considerando a não existência de informação sobre a origem do biqueirão das subdivisões da área Oeste da costa ibero atlântica (9a Norte, 9a Central-Norte e 9a Central-Sul).
Em fevereiro de 2018 o stock foi sujeito a um “benchmark”, WKPELA 2018 (ICES, 2018a). Nesse “benchmark” foi aprovada a proposta da separação do stock em duas componentes (Oeste e Sul) tendo por base as diferenças entre as respetivas dinâmicas populacionais e nas pescas (Figura 3). Contudo, até que seja devidamente identificada a estrutura do stock ao longo da Divisão 9a, o aconselhamento será efetuado para todo o stock, mas o aconselhamento para as capturas será efetuado separadamente para cada componente de stock.
No referido “benchmark” foram considerados dados atualizados sobre a ligação potencial entre as populações das subdivisões 9a Oeste e Sul da Península Ibérica (Garrido et al., 2018a). Tendo por base a distribuição espacial desta espécie na Divisão 9a obtida nas campanhas de investigação no mar verificou-se uma descontinuidade persistente entre as componentes Oeste e Sul do stock em diferentes fases do ciclo de vida da espécie (ovos, juvenis e adultos) e durante as diferentes épocas do ano. Esta descontinuidade também foi observada com base nos dados dos desembarques, com mais de 90% dos desembarques portugueses efetuados na Subdivisão 9a C-N em 2017. Além disso, não foi encontrada qualquer correlação entre as capturas de biqueirão efetuadas nas componentes Oeste e Sul do stock (Garrido et al., 2018a), sugerindo assim a existência de dinâmicas diferentes nessas populações.
A hipótese de a população da componente Oeste poder ser resultante de migração com origem na componente Sul não tem qualquer suporte nos dados atuais, uma vez que não se detetou qualquer correlação entre a abundância ou os desembarques de biqueirão na costa Oeste com a abundância na costa Sul no ano anterior (Garrido et al., 2018a). Pelo contrário, os desembarques de biqueirão na costa Oeste evidenciaram uma relação significativa com a abundância da espécie nessa área, evidenciando uma dinâmica independente da pescaria de biqueirão em ambas as componentes. A presença persistente de recrutas em numerosos estuários de rios portugueses, principalmente na Subdivisão 9a C-N, revelada por diversos estudos aí realizados, em concordância com a concentração de ovos nesta subdivisão, aponta para a existência duma população autossustentável nesta área. Ainda não é clara a separação da população do GoC e do Mar de Alborán (SO da costa mediterrânica espanhola).
Encontram-se ainda em desenvolvimento novos estudos em genética e microquímica de otólitos visando esclarecer a identidade e a estrutura das populações de biqueirão na componente Oeste do stock. O WKPELA sugeriu apresentar quer as evidências disponíveis quer as novas evidências resultantes destes novos estudos ao “Stock Identification Methods Working Group” do ICES para futura consideração.
Dado o fraco rastreamento de coortes das populações de biqueirão na componente Oeste avaliado pelas campanhas de rastreio acústico PELACUS e PELAGO, e os novos dados disponíveis sobre a composição etária obtidos com base nas amostragens dessas campanhas, está a ser desenvolvido um estudo para investigar a correlação potencial entre as populações das componentes Oeste e Cantábrica de biqueirão, cujos resultados preliminares foram apresentados durante a ultima reunião do WGHANSA (ANE_2020_InputData_WesternComponent_27May.pptx).
Os desembarques oficiais de biqueirão na Divisão 9a em 2018 foram de 13640 t. As capturas totais estimadas foram de 13732 t. O TAC acordado para a gestão calendarizada para julho 2018 a junho 2019 foi de 17068 t (Componente Oeste: 13308 t; Componente Sul: 3760 t). Os desembarques oficiais provisórios para este calendário foram de 15391 t (Componente Oeste: 12521 t; Componente Sul: 2870 t).
Os desembarques oficiais provisórios durante o primeiro semestre de 2019 foram de 7305 t. As capturas provisórias durante o atual período de gestão (julho de 2018 a junho de 2019), como resultado da soma das capturas totais a partir do segundo semestre de 2018 e os desembarques oficiais provisórios a partir do primeiro semestre de 2019, totalizaram 15391 t.
A captura total em 2018 para a componente Oeste do stock (Figura 4) foi estimada em 9233 t, o que representou uma queda de 9% em relação à captura de 2017 (10094 t) e representou 67% da captura total na Divisão 9a. Essa estimativa é o terceiro máximo histórica desde o registado em 1995. As frações que compuseram essa captura total em 2018 foram: 9233 t de desembarques oficiais e 0,6 t de rejeições ao mar. Os desembarques oficiais provisórios durante o primeiro semestre de 2019 foram de 6280 t. As capturas provisórias durante o atual período de gestão (julho de 2018 a junho de 2019) totalizaram 12521 t.
A captura total em 2018 do componente Sul do stock (Subdivisão 9a Sul) (Figura 5) foi estimada em 4499 t, o que representou uma redução de 2% em relação à captura de 2017 (4611 t) e representou 33% da captura total na divisão. As frações que compunham essa captura total em 2018 foram: 4408 t de desembarques oficiais (Portugal: 65 t, Espanha: 4342 t) e 91 t de rejeições (espanholas). Noventa e oito por cento (98,0%) da captura total foram capturados pela frota com redes de cerco com retenida. A pesca foi concentrada durante o segundo e terceiro trimestres do ano, principalmente o segundo. Os desembarques oficiais provisórios durante o primeiro semestre de 2019 foram de 1026 t (0 t da pesca portuguesa, 1026 t da espanhola).