O CascaisWatch é uma estação de observação oceanográfica do Grupo de Oceanografia e Plâncton do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (ex-INRB - L-IPIMAR), com uma série temporal iniciada em Fevereiro de 2005. Esta estação faz parte da rede de estações de monitorização de zooplâncton do ICES (http://www.st.nmfs.noaa.gov/nauplius/media/time-series/site__iberian-portugal-cascais/), no qual se baseiam os relatórios do estado ambiental relativamente ao zooplâncton (http://www.wgze.net/zooplankton-status-report), publicados numa base bianual.
A estação está localizada ao largo da Baía de Cascais e do estuário do Rio Tejo, a 38 ° 40'N 09 ° 26,2 'W, aproximadamente a 4 km da costa, com uma profundidade de cerca de 38 m (Figura 1). A hidrografia da baía é influenciada pela morfologia costeira, a topografia do fundo (canhões submarinos de Lisboa e Setúbal) e a descarga de água doce do rio Tejo (Ribeiro & Amorim, 2008). O CascaisWatch é considerado como estando sob a influência do sistema de afloramento do Atlântico Nordeste durante o período de primavera e verão. Este afloramento sazonal é responsável pela produção de fitoplâncton que promove uma abundância estável de zooplâncton ao longo do ano (Santos et al., 2007). Esta estação de monitorização foi desenhada com o objetivo de ser representativa de toda a zona costeira da área. A análise das temperaturas obtidas na estação Cascais Watch demonstrou a existência de um padrão bi-sazonal, com temperaturas do mar usualmente abaixo dos 16°C no Inverno e Primavera e acima dos 18°C no período entre Junho e Novembro. Este padrão parece estar relacionado com o facto da estação estar localizada numa sombra de afloramento (Moita et al., 2003), quando os ventos favoráveis ao afloramento podem promover estratificação e estabilidade das águas do mar no local. As amostras de zooplâncton são colhidas dos 30 m até à superfície (arrastos oblíquos), numa base mensal (sempre que possível) e realizadas sempre em situações de preia-mar.
As amostras são divididas em duas: uma é preservada para posterior identificação e contagem de mesozooplâncton e a outra metade é liofilizada para a determinação da biomassa. Durante o primeiro ano de amostragem a produção diária de ovos para o copépode Calanus helgolandicus foi determinada sempre que possível. Após o primeiro ano de amostragem, e tendo-se concluído que Acartia spp. era o copépode mais abundante nas amostras, começou-se as determinações da produção de ovos para esta espécie. Simultaneamente são obtidas medições de temperatura, salinidade e clorofila-a com um CTD+fluorómetro.
O ainda curto período da série de dados é um factor limitante na análise interanual. No entanto, verifica-se que o ciclo anual da biomassa de zooplâncton apresenta um padrão bimodal, com pico de biomassa em Abril e Agosto. Os copépodes são o grupo mais abundante durante todo o ano, especialmente no período de Agosto a Novembro, apresentando uma correlação negativa significativa com a temperatura da água do mar. Os copépodes na Baía de Cascais estão maioritariamente representados pelos géneros Acartia, Paracalanus, Oncaea, e Oithona. Outras espécies (Temora stylifera, T. longicornis, e Centropages spp.) são também importantes ocorrendo mais tarde no fim da época de produção e, explicam as grandes abundâncias de copépodes registados perto do fim do ano. A abundância total de copépodes apresenta uma correlação negativa significativa com a temperatura in situ (r2- 0.7848), o que é verificado pela oscilação das anomalias interanuais. Nos últimos anos a temperatura da água do mar à superfície tem vindo a aumentar, o que tem provocado uma diminuição da abundância total dos copépodes. Os principais responsáveis por este decréscimo são os três géneros mais abundantes: Acartia, Paracalanus, and Oithona que apresentam uma correlação positiva entre eles. A acompanhar esta diminuição de copépodes tem-se observado um aumento na abundância de larvas de bivalves, de tal maneira que em 2009 foram, pela primeira vez, o taxa mais abundante, representando 26,2% do zooplâncton total. A abundância destas larvas de bivalves coincide com a abundância crescente, no estuário do Tejo, da amêijoa japonesa (Ruditapes philippinarum), uma espécie de bivalve invasora. Esta espécie que foi detetada pela primeira vez há 10 anos é agora alvo de uma pesca local dirigida (Garaulet, 2011). Estes resultados dão uma indicação preocupante da evolução da composição do zooplâncton, onde os copépodes, principal alimento de muitos peixes e crustáceos, parecem estar a ser substituídos por larvas de espécies invasoras, com consequências ainda desconhecidas para a manutenção dos recursos marinhos e estuarinos. A manutenção e incremento das observações no futuro permitirá verificar se esta tendência se mantém e qual o impacto futuro destas alterações no ecossistema marinho da região.
No entanto, a diminuição de copépodes segue as tendências já obtidas na estação de Vigo (norte do local de Cascais), onde os copépodes Acartia clausi e Calanoides carinatus têm vindo a diminuir. Por tudo isso, é necessário mais dados para entender melhor essa mudança na abundância de espécies ao largo de Cascais e a sua relação com o aumento da temperatura ao longo dos últimos 30 anos (Figura 3). Além disso, a necessidade de identificar as larvas véligers de Bivalvia para o nível taxonómico mais baixo é necessário, a fim de compreender a importância de espécies invasivas na área.
O registro da temperatura a longo prazo para esta região (Figura 3) demonstra que as temperaturas médias de superfície estão atualmente a aumentar relativamente ao observado nos últimos 100 anos.
Garaulet LL. 2011. Estabelecimento do bivalve exótico Ruditapes philippinarum (Adams & Reeve, 1850) no estuário do Tejo: caracterização da população actual e análise comparativa com a congénere nativa Ruditapes decussatus (Linnaeus, 1758) e macrofauna bentónica acompanhante. Msc. Thesis. University of Lisbon, 77pp.
Moita MT, Oliveira PB, Mendes JC, Palma AS 2003. Distribution of chlorophyll a and Gymnodinium catenatum associated with coastal upwelling plumes off central Portugal. Acta Oecologica, 24: S125–S132.
Ribeiro S, Amorim A. 2008. Environmental drivers of temporal succession in recent dinoflagellate cyst assemblages from a coastal site in the North-East Atlantic (Lisbon Bay, Portugal). Marine Micropaleontology, 68: 156-178.
Santos AMP, Chícharo A, dos Santos A, Moita T, Oliveira PB, Peliz A, Ré P. 2007. Physical-biological interactions in the life history of small pelagic fish in the Western Iberia Upwelling Ecosystem. Progress in Oceanography, 74: 192-209.