2025-01-30 (IPMA)
Pouco após as 08 UTC (igual à hora local) de dia 29 de janeiro ocorreu uma situação de vento forte na cidade de Matosinhos, tendo sido reportada destruição em áreas muito localizadas, dentro de um corredor estreito com orientação oes-sudoeste/es-nordeste, situado nas proximidades do mar.
Os danos verificaram-se essencialmente ao nível de telhados, coberturas e fachadas de alguns dos edifícios, tendo diversos materiais sido arrancados (Figura 1), projetados pelo ar e, inclusive, vindo a afetar viaturas e uma escola situada nas proximidades. A análise preliminar que foi possível efetuar com os elementos disponíveis aponta para que o fenómeno de vento forte tenha alcançado uma intensidade de F1/T2 (escala clássica de Fujita/escala de Torro), correspondendo a vento na gama 33-41 m/s, ou seja, 119-149 km/h (rajada, média de 3s), admitindo-se serem mais prováveis valores na metade inferior da gama assinalada. Estes valores devem ser considerados como provisórios, podendo vir a ser confirmados ou alterados proximamente.
Durante o dia 29 de janeiro a depressão “Ivo”, situada a noroeste da Península Ibérica, promovia sobre o território do continente, a passagem da superfície frontal fria que lhe estava associada, tendo a região norte sido afetada pelo final da madrugada-início da manhã. Na massa de ar pós-frontal, instável, verificava-se intrusão de ar seco em níveis médios e o escoamento atmosférico era bastante intenso aos vários níveis, incluindo o da superfície. Este ambiente era favorável à formação de células convectivas que materializavam nuvens com algum desenvolvimento vertical, por vezes com organização. Esta manifestava-se pela presença de correntes ascendentes dotadas de movimento de rotação, que conferia uma maior longevidade às células convectivas e, também, um maior potencial para a geração de condições de tempo adverso. A presença de bolsas de ar relativamente mais seco nas vizinhanças das referidas células favorecia a chegada, a níveis baixos, de parcelas de ar com momento linear de grande magnitude, que se manifestou pela ocorrência de rajadas muito fortes a esses níveis. Estes fenómenos, denominados por rajadas convectivas, foram muito repentinos e localizados. Nas condições atmosféricas deste dia, não obstante a existência de convecção organizada, os ingredientes eram apenas marginalmente favoráveis à formação de tornados, embora a formação deste tipo de fenómeno não possa ser excluída.
Durante todo o dia, em momentos que dependeram da localização geográfica em cada caso, foram reportados episódios de vento muito forte. Por outro lado, a análise de observações com radar e observações de superfície da rede do IPMA, permitiu confirmar que os valores de rajada com maior magnitude, superiores a 100 km/h, foram sempre observados à passagem de aglomerados convectivos sobre cada um dos locais.
A análise da perturbação convectiva que afetou a área em causa foi efetuada com recurso ao radar de Arouca/Pico do Gralheiro. Inclui um produto de refletividade e outro de velocidade Doppler (baixa elevação), foram analisados em dois instantes (Figura 2). O centróide da perturbação convectiva seguiu a trajetória assinalada (Figura2), tendo passado nas vizinhanças da área onde foram reportados mais efeitos do vento. A natureza destes efeitos e a própria velocidade a que a perturbação convectiva se propagou sobre o local (24 m/s, cerca de 86 km/h) são coerentes com a ocorrência de rajadas convectivas muito fortes. Embora não se possa excluir, liminarmente, a ocorrência de um tornado, tal terá sido pouco provável neste caso.
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