2022-04-16 (IPMA)
Faleceu no dia 16 de abril de 2022, Idalina Veludo, geofísica do IPMA, na sequência do agravamento do seu estado de saúde. Sismologista no Observatório do Príncipe do Mónaco, na Ilha do Faial, conhecida de todos pela sua grande competência técnica e desassombro.
Ao longo dos últimos catorze anos a Idalina Veludo, para além de assegurar a monitorização sísmica da zona atlântica dos Açores, dedicou-se às técnicas de monitorização sísmica, ao estudo da estrutura crustal sob a plataforma dos Açores, aos efeitos superficiais de amplificação da ação sísmica e à sua quantificação. Foi autora de artigos científicos publicados na Tectonophysics e no Bulletin of Earthquake Engineering, e participou ativamente em diversas conferências internacionais da especialidade.
De alguns dos que com ela trabalharam recebemos testemunhos da forma como a Idalina sempre encarou as suas relações de trabalho e de amizade:
- “A nossa geofísica partiu! Há quase 10 anos que trabalhamos juntas no Observatório Príncipe Alberto do Mónaco, foram anos de muita amizade e partilha. Aprendi muito com a Idalina, colega muito bem preparada, procurando sempre enriquecer e partilhar os seus conhecimentos. A Idalina deixa muitas saudades, a vista para o Pico da janela do Observatório, sem a minha amiga, não será mais a mesma. Até sempre” [Sandra Sequeira].
- “É difícil encontrar as palavras certas para falar da Idalina. Como resumir em algumas linhas a pessoa especial que foi e o papel que, tantas vezes sem darmos por isso, teve nas nossas vidas. Tinha sempre uma palavra de força e de ânimo, estava sempre disposta a ajudar mesmo sem lho pedirmos. Tinha um humor especial que tanto apreciava, partilhávamos o gosto pela Terra, pelos sismos, pelo mar, pelo Faial, pelas lapas e por gatos. Admirava na Idalina o sentido da responsabilidade, a vontade férrea de fazer mais e melhor, de constantemente querer aprender e saber mais. Para a Idalina as contrariedades do trabalho eram para resolver e raramente davam lugar a queixumes. Recordarei sempre o carinho e cuidado que tinha com o espólio desse quase pequeno museu que é o Observatório Príncipe Alberto de Mónaco. Tínhamos um plano para a nossa reforma, compilar e publicar os relatos dos faroleiros sobre a erupção dos Capelinhos. Não poderemos deixar de o fazer! Neste momento difícil lembro-me de uma frase de Saint-Exupéry, “Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.” Reflete bem parte do que sinto neste momento. Até sempre Idalina [Graça Silveira].
- “É muito difícil expressar por palavras o que sinto neste momento de perda. Também não consigo encontrar palavras para falar da Idalina. Todas me parecem redutoras pois a Idalina era uma pessoa especial. Sempre bem-disposta e com um sorriso mesmo quando enfrentava adversidades. Conheci-a primeiro como aluna, excecional, não apenas pelos resultados académicos mas também pela sua personalidade. Sempre pronta a ajudar os colegas e com a ambição de realizar as suas tarefas de um modo digno. Depois foi minha colaboradora, vários anos em que trabalhou como bolseira em diversos projetos de investigação orientados por mim. Eu sabia que qualquer tarefa que eu lhe atribuísse seria executada com seriedade, pois a Idalina possuía um elevado sentido de responsabilidade. Além disso, tentava sempre facilitar um bom ambiente de trabalho entre todos os colegas de sala. Apesar de não termos sido amigas próximas, os vários anos em que trabalhámos juntas permitiu que desenvolvêssemos uma amizade particular, com respeito mútuo e um carinho especial. Neste momento triste, procuro consolo na esperança de que ela esteja num sítio melhor. Amizade, admiração e respeito são as palavras que talvez reflitam melhor o que sinto por ela. Até sempre” [Paula Teves Costa]
- “Amiga do seu amigo, sempre disponível e empenhada, e a quem a injustiça revoltava profundamente. Em termos profissionais extremamente motivada e empenhada, perfecionista e sempre pronta para explorar novas abordagens e ideias. Dedicada à sua terra de adopção, os Açores e o Faial em particular, sempre pronta para qualquer campanha sismológica na região e sempre a tentar espremer ao máximo os dados sísmicos existentes para esclarecer os mistérios do interior da terra dessas ilhas encantadas. Por ironia do destino, sempre teve um fascínio sobre a estrutura da ilha de São Jorge e o papel desta ilha na geodinâmica da região, e a crise sísmica inicia-se quando ela parte definitivamente. Quem sabe se não terá sido a terra a despedir-se dela? [Nuno Afonso Dias].
- “Trabalhei mais de perto com a Idalina nos anos de 2003 a 2006 quando, juntamente com a Profa. Paula Costa, a desafiámos para participar no projeto de monitorização sísmica das gravuras de Foz Côa no sítio da Canada do Inferno. Com pouca diferença de idades (menos de meia-dúzia) e ainda licenciada apenas, viria a completar o Mestrado em 2008 sob a orientação da Profa. Paula Costa, a Idalina sempre mostrou uma grande maturidade, autonomia, rigor, iniciativa e espírito crítico, características que viria a manter na sua vida profissional. Este trabalho da Idalina nas gravuras de Foz Côa é um dos trabalhos de que mais me orgulho e a que sempre faço referência nas minhas apresentações nas Escolas dedicadas ao “CSI Sismologia”. Como não podia deixar de ser, lá está a fotografia da Idalina, de costas pois não gostava de se deixar fotografar. Uma fotografia que irei continuar a mostrar, agora com um outro significado, in memoriam. Não te esquecemos.” [Luis Matias].
- "A Idalina era o nosso suporte, o nosso apoio em termos de geofísica. Comigo ficarão sempre as nossas risadas, as nossas conversas sem nexo (muitas vezes), daquelas só pelo prazer de divagar. A nossa promessa, sempre adiada, de irmos até à Serra da Freita para lhe mostrar as minhas origens, os meus domínios da Geologia, as pedras parideiras, o nosso radar. Eu cumpri, no sábado, sempre com ela na mente. Até sempre Idalina!” [Matilde]
- “Conheci a Idalina como aluna e mais tarde como uma grande profissional de sismologia. Sempre lutadora, às vezes irrascível, e com uma dedicação extrema à sua atividade profissional. Ao deixar o nosso convívio parte uma parte daquela energia que nos leva a fazer o melhor mesmo na quase completa ausência de condições e reconhecimento. Todos nós morremos um pouco” [Miguel Miranda].
À família endereçamos sentidas condolências.