2016-04-12 (IPMA)
Ao início da manhã do passado dia 10 de abril, em Vila Chã, concelho de Vila do Conde, ocorreu um episódio de vento muito forte que causou destruição significativa em instalações agropecuárias e algumas habitações. De acordo com os elementos disponíveis, esta destruição ter-se-á traduzido essencialmente por destelhamentos, danos em janelas e muros, tendo sido igualmente registada destruição em árvores. A natureza dos danos revela consistência com estragos tipicamente produzidos por um tornado.
O território do continente encontrava-se, então, sob a influência de uma depressão complexa, cujo núcleo principal se centrava a sudoeste da Irlanda. Na sua circulação a depressão transportava ar relativamente frio e húmido, em que se organizaram diversas linhas de instabilidade que afetaram Portugal continental durante a madrugada daquele dia. Ao início da manhã verificou-se a aproximação e passagem da respetiva superfície frontal fria sobre o litoral da região Norte. Esta perturbação evoluiu como um sistema convectivo quási-linear. Trata-se de um sistema com significativas ondulações, que as observações com radar mostram sob a forma de deformações no campo da refletividade (ou da intensidade da precipitação). Estas, por sua vez, são consequência direta de movimentos de rotação relativamente organizados, estabelecidos em níveis baixos (em geral abaixo de 3 quilómetros de altitude). Em alguns casos, estes movimentos de eixo essencialmente vertical podem ser amplificados de modo a produzir fenómenos de tipo tornado. Por via de regra, neste contexto meteorológico, os tornados produzidos são de curta duração e baixa intensidade.
Pelas 6:46 UTC (7:46, hora local) a observação do campo da precipitação mostra um destes padrões ondulatórios (eco em arco) ainda sobre o mar, mas já nas proximidades do local de Vila Chã, onde ocorreu o tornado (figura 1). Na correspondente observação da velocidade em relação à tempestade é visível um padrão de dipolo de rotação, que reflete um movimento de sentido ciclónico (sentido anti-horário, ver figura 2) a que o fenómeno esteve associado. O perfil vertical do vento observado pelo radar de Arouca/Pico do Gralheiro mostra que o vento, de sudoeste, se intensificava substancialmente numa camada baixa. Para além do vórtice cuja assinatura se identificou junto a Vila Chã, as observações permitem identificar muitos outros vórtices organizados ao longo da referida perturbação frontal (ver figura 2).
A natureza dos danos verificados por via documental sugere ter-se tratado de um tornado F1/T2 (rajada 3s, na gama 33-42 m/s). “F” designa a escala de Fujita clássica e “T” a escala de TORRO (TORnado and storm Research Organization).