2015-03-18 (IPMA)
No passado dia 2 de Março realizou-se no Auditório do IPMA-Olhão um seminário de apresentação do projeto PROMAR VALorização e PROdução da TAInha - VALPROTAI. O evento contou com a participação de cerca de 70 pessoas, entre as quais representantes institucionais e do sector, investigadores e público em geral. Os pilares em que a investigação a desenvolver pelo IPMA no projeto VALPROTAI se baseia assentam:
(1) na valorização da tainha, melhorando a aceitação desta por parte do consumidor e certificando a sua origem;
(2) na avaliação da qualidade da tainha nos vários locais de produção e captura;
(3) no desenvolvimento de metodologias de reprodução da tainha.
Para além dos objetivos do projeto foi ainda apresentada informação sobre a tainha numa perspetiva da importância do seu consumo massificado como alternativa às espécies não europeias. Foram focados a sua importância para uma aquacultura mais sustentável, os valores dos desembarques em Portugal e globais, os aspetos sobre a sua distribuição mundial e o valor económico que atinge, bem como aspetos relacionados com a sua produção e valorização. Após uma excelente degustação de canapés desenvolvidos a partir do filete de tainha, patrocinada pela DOCAPESCA, seguiu-se uma mesa redonda onde se debateram os principais temas apresentados.
A composição da mesa redonda contou com Pedro Pousão-Ferreira (IPMA – Instituto Português do Mar e da Atmosfera), Isabel Guerra (DOCAPESCA), António Vieira (APA- Associação Portuguesa de Aquacultores), Jorge Dias (SPAROS), Ignacio Navas (IFAPA, Espanha), Ana Rita Berenguer (DGRM- Direção Geral dos Recursos Marinhos) e Pedro Monteiro (DRAPALG- Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve).
Considerações finais da mesa redonda
A conjuntura atual de estagnação da captura e aumento do consumo de peixe a nível mundial requer que peixe proveniente da aquacultura seja introduzido no mercado de forma a suprir a procura por parte do consumidor. Anteriormente à adesão de Portugal à comunidade europeia apontava-se para uma produção em aquacultura que atingisse as 20 mil toneladas por ano. Este valor nunca foi alcançado tendo a produção em 2013 rondado as 10 mil toneladas, e prevê-se que o valor em 2014 seja ainda mais baixo. Estes valores mostram bem que a produção de peixe em aquacultura continua a ser um desafio se quisermos diminuir a sua importação. As causas apontadas por parte dos produtores para os níveis baixos de produção foram principalmente: i. a forte concorrência dos países asiáticos que, dado os custos de produção serem muito menores, podem introduzir no nosso mercado produtos a valores muito baixos; ii. o aparecimento de diversas patologias (parasitas, bactérias e vírus); iii. alterações na formulação das rações, impostas por novos regulamentos, que comprometeram o lucro e consequentemente a viabilidade de muitas empresas. Foi ainda salientado que é importante uma forte aposta na qualidade de produção (através da certificação) e na diversificação das espécies a produzir.
Dado que o sector da pesca e aquacultura continua a ser uma área estratégica imporatnate conforme salientado pela criação de um novo fundo para este sector é importante continuar a apostar na investigação. Cabe aos investigadores a responsabilidade adicional de demonstrar as vantagens e desvantagens da produção aquícola aos investidores.
Em relação à tainha foi focada a importância da sua produção para a diversificação de espécies produzidas, muito embora esteja numa posição desvantajosa perante a opinião do consumidor. Esta espécie é muito valorizada em certos mercados mundiais, tais como Brasil, Vietnam, Austrália e países de Leste.
Referiu-se que a presença de tainha nos tanques de terra é vantajosa para a produção das outras espécies pois evita a formação de camadas anóxicas junto ao fundo e da película de gordura na superfície da água resultante do uso de rações com teor elevado de gordura. Necessitam de percentagens inferiores de proteína na dieta (cerca de 32%) para crescer quando comparadas com as espécies atualmente produzidas em Portugal pelo que a sua produção obedece ao requesito, que é do consenso geral. de se produzir proteína de elevada qualidade a baixo preço e com certificando de segurança alimentar.
Em resumo, a tainha é um modelo de espécie que tem tudo para vir a ser um caso de sucesso na aquacultura nacional, mas ainda há um longo caminho a percorrer. O potencial de desenvolvimento da produção de tainha requer:
1 - a obtenção de juvenis provenientes de reprodução em cativeiro (alguns países já o fizeram mas não a nível comercial);
2- o conhecimento dos seus requisitos nutricionais, para produzir uma ração adequada;
3- a avaliação do tipo de produção (policultivo, monocultivo e multitrófico) e maneio e gestão dos tanques de terra;
4- o conhecimento das bases sanitárias para a sua produção;
5 – a valorização dos locais de produção, nomeadamente das salinas e sapais, constituindo uma mais valia na produção, usando densidades de produção inferiores.
6 - a desmistificação da imagem negativa que a tainha tem para o consumidor nacional, através de uma produção de qualidade.
7 – a valorização da tainha como um produto com alto valor ambiental, baixo nível trófico, com exigências proteicas mais baixas (pegada ecológica pequena) e reduzido impacto ambiental para além de possuirem alto potencial para processamento, filetagem e transformação.
8- uma aposta em boas campanhas de marketing e promoção.