Os cefalópodes como indicadores do bom estado dos ecossistemas
2014-06-24 (IPMA)
O papel dos cefalópodes como indicadores do bom estado dos ecossistemas numa nova Diretiva europeia foi um dos temas abordados por 20 investigadores que reuniram durante 4 dias no Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA)
Os especialistas do Working Group on Cephalopod Fisheries and Life History (WGCEPH) do ICES juntaram-se no IPMA em Algés na semana passada (16-19 Junho) para discutir vários assuntos relacionados com as criaturas marinhas em questão, incluindo a sua relevância para a Diretiva Quadro da Estratégia Marinha (DQEM) e a gestão das suas pescarias.
Os Cefalópodes – lulas, polvos, chocos, potas – são moluscos marinhos ancestrais “super-evoluídos” com modos de vida diversos e um vasto leque de preferências ambientais. Têm uma vida curta (morrem após um único período de desova ao fim de 1-2 anos) e uma elevada taxa de conversão alimentar que lhes permite uma rápida reposição das populações; têm características oportunistas que lhes valem um lugar de destaque na estrutura trófica dos ecossistemas marinhos e são também um recurso valioso da pesca em vários países da Europa e do Mundo.
Ao analisar a importância dos cefalópodes na DQEM, o WGCEPH considerou vários descritores do Bom Estado Ambiental, em particular o potencial para estas espécies serem bons indicadores de biodiversidade – um desafio que igualmente obriga a conhecer o efeito das condições oceânicas na sua distribuição e abundância. Um bom exemplo é o polvo-comum (Octopus vulgaris) que desapareceu do Canal da Mancha após o inverno gelado de 1963 não tendo regressado tão a norte desde então.
A grande sensibilidade dos cefalópodes à variabilidade ambiental, uma característica amplamente documentada, torna complicada a tarefa de estimar o tamanho das suas populações e a subsequente gestão das suas pescarias. Neste sentido, modelos matemáticos de avaliação de stocks que incorporam variáveis ambientais, como a chuva e a temperatura oceânica, têm vindo a ser desenvolvidos pelo WGCEPH para o polvo e a lula. A sua sensibilidade ambiental está manifesta, por exemplo, na intolerância dos polvos à salinidade reduzida que os faz migrar para maiores profundidades quando ocorrem grandes descargas de água doce dos rios para o oceano após grandes chuvadas. Por vezes, tal como aconteceu em Janeiro passado, não conseguem escapar e são encontrados mortos em grandes quantidades arrojados na areia das praias mais próximas.
O relatório do WGCEPH poderá ser encontrado em no sítio do ICES em meados de Agosto.