Na sequência do desenvolvimento de novos produtos agrometeorológicos específicos para culturas com expressão económica importante no País e da caracterização do território para essas culturas, apresenta-se parte do trabalho realizado sobre a caracterização das regiões vitivinícolas do continente com base em índices biotérmicos, feito em colaboração com os Professores Francisco Abreu, Manuel Madeira e Virgílio Loureiro do Instituto Superior de Agronomia.
A caracterização térmica e hídrica das regiões vitivinícolas é importante para definir o tipo de castas mais apropriadas em cada uma e é um factor adicional para a interpretação do tipo de vinhos aí produzidos. Os índices IW, IH e IF (abaixo descritos) foram utilizados na caracterização térmica dessas regiões no continente, já concluída quer a nível da cartografia das grandes regiões vitivinícolas, quer a nível das sub-regiões DOP inclusas, e está a ser preparada uma publicação sobre os resultados obtidos. Alguns destes resultados foram inclusivamente já apresentados pelo Prof. Francisco Abreu num seminário no Centro de Botânica Aplicada à Agricultura (CBAA), no Instituto Superior de Agronomia, dia 20 de Março de 2012. Mais Informação
Dada a importância prática (técnica e económica) deste assunto, e a inexistência de informação sobre o mesmo – excepto para a região do Douro, mas com base em dados medidos durante parte do período 1931/60 – optou-se pela disponibilização pública imediata das cartas do continente para cada índice, onde as regiões vitivinícolas estão delimitadas. Os dados utilizados nas cartas são relativos ao período 1971/2000, e serão atualizados periodicamente tendo em conta a tendência atual de aumento da temperatura do ar em Portugal (por exemplo, na estação meteorológica de Lisboa/Tapada da Ajuda, o IH e o IW estão a aumentar a uma taxa de 10ºCd por ano).
Estes índices são definidos para o período vegetativo da videira (PV), que nas regiões temperadas do HN é considerado de 1 de Abril a 30 de Setembro e utilizam uma temperatura base de 10ºC, aceite como referência para o desenvolvimento da videira.
O índice de Winkler (IW) quantifica a duração térmica do PV na região e indica a possibilidade de uma casta completar o seu ciclo de desenvolvimento nessa região. É calculado como
onde T (ºC) é a temperatura média diária.
O índice heliotérmico de Huglin (IH) indica a capacidade de maturação (produção de açúcares) da região, por incorporar indirectamente a radiação solar e a temperatura durante o processo fotossintético, através do comprimento do dia e da temperatura máxima.
onde Tx é a temperatura máxima diária e k é um coeficiente dependente do comprimento do dia. As classes de clima vitícola definidas com o IH foram:
Classes de clima vitícola: | Descrição | Intervalos de IH |
---|---|---|
IH 1 | demasiado frio | ≤ 1500 |
IH 2 | frio | > 1500 e ≤ 1800 |
IH 3 | temperado | > 1800 e ≤ 2100 |
IH 4 | temperado quente | > 2100 e ≤ 2400 |
IH 5.1 | quente | > 2400 e ≤ 2700 |
IH 5.2 | muito quente | > 2700 e ≤ 3000 |
IH 6 | demasiado quente | > 3000 |
O índice de frescura nocturna à maturação (IF) está relacionado com a qualidade de maturação (aromas, coloração) da região, que é favorecida por noites frescas durante a maturação. É definido como a média das mínimas em Setembro.
As classes de clima vitícola definidas foram:
Classes de clima vitícola: | Descrição | Intervalos de IF |
---|---|---|
IF 1 | Com noites quentes | > 18 |
IF 2.1 | temperadas quentes | > 16 e ≤ 18 |
IF 2.2 | temperadas | > 14 e ≤ 16 |
IF 3 | noites frescas | > 12 e ≤ 14 |
IF 4 | noites muito frescas | ≤ 12 |
Winkler, AJ 1962. General viticulture. Univ California.
Huglin, P 1986. Biologie et écologie de la vigne. Payot ed.
Tonietto J & A Carbonneau 2000. Actas 3º Simp Int ‘Zonificacion Vitivinicola’, 6-13 Mayo 2000, Madrid, vol 2, 1-16